terça-feira, 22 de setembro de 2015

Viva Maria lembra a luta de Gonzaguinha contra a ditadura

Se estivesse vivo Gonzaguinha completaria 70 anos
O Viva Maria desta terça-feira, 22, é pura poesia. A jornalista Mara Régia presta homenagem ao menino que em 22 de setembro de 1945 chegou ao mundo num voo rasante da Asa Branca, Gonzaguinha.

“É a certeza da eterna presença da vida que foi, da vida que vai. É a saudade da boa”, cantava Gonzaguinha na faixa Feliz, trilha sonora de telenovelas e de histórias de amor. Os versos regem o dia 22 de setembro na vida dos fãs de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, que, se vivo, completaria hoje 70 anos. O marco, celebrado há meses em musicais, espetáculos e shows comemorativos, ganha força, agora, em três novos discos - um deles, recém-lançado no mercado. Deve render, ainda, dois documentários e mais uma montagem no teatro, até o próximo ano - tudo sob avaliação de Daniel Gonzaga, filho do artista e sócio-gerente da Moleque Editora, que administra os direitos autorais do músico.
Pelos “caminhos do coração” Gonzaguinha, soube, como poucos, emprestar sua música à luta contra a ditadura. Pagou caro por sua postura crítica ao regime. Teve 72 de suas composições submetidas ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Deste total, 54 foram censuradas, entre elas um de seus maiores sucessos, "Comportamento Geral".

A apresentação agressiva e pouco agradável aos olhos da mídia da época valeram a Gonzaguinha o apelido de "cantor rancor". Mas suas músicas aí estão para provar que a “Pessoa” é a coisa mais maior de grande, aliás é dele também uma outra frase que guarda em si o mesmo sentido: “ Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas”.

E quando a gente pisa firme nas linhas que estão na palma de nossas mãos a gente consegue ter força pra começar tudo outra vez ...Se preciso for se recriar como “Mulher , e daí?” Espere por mim, morena”! Santa maravilha ! O importante é soltar a voz, “Sangrando” para se entregar num “Grito de alerta” e quando não der mais pra segurar ….. “Explode coração!” 

Gonzaguinha na voz da cantora brasiliense Natália Lima, que nasceu no mesmo dia do nosso programa, 14 de setembro. Natália é a prova de que Gonzaguinha vive e viverá para sempre na eternidade das canções! Natália, 27 anos, há seis, frequenta os palcos da capital com o show Gonzaguinha vida! Viva você, Natália!
 
Novas gerações celebram a vida de Gonzaguinha no Viva Maria (22.09.2015)

Radioapaixonada: conheça a valorosa trajetória da jornalista Mara Régia di Perna


  
Mara Régia em seu ambiente preferido: os estúdio da rádio
Ela nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1951,onde seu interesse pelo rádio apareceu ao ver sua avó sempre na sintonia da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emissora da qual também se tornou ouvinte. O interesse pelo feminismo nasceu mesmo antes dela saber o que isso significava, ao ver sua mãe chorar por causa do pai que era alcoólatra, aos 8 anos, ela começou a sonhar em fazer algo em prol das mulheres

 Antes de chegar ao rádio, aos 25 anos, ao lado do marido deixou o Rio de Janeiro e foi morar na Inglaterra. Em Londres estudou história da arte, vendeu quadros, trabalhou na Embaixada Cultural do Brasil e na biblioteca do Brasil na capital inglesa. E foi em Londres onde aconteceu a sua iniciação definitiva no feminismo, em 1976 ela se uniu a centenas de mulheres no Hyde Park para protestar contra o parlamento inglês que discutia a revogação da lei de descriminalização do aborto.
    De volta ao Brasil, em 1977, a convite do governo brasileiro, Mara e o esposo fizeram breve passagem por São Paulo e logo depois foi para Brasília.  Na capital do Brasil ela cursou publicidade e jornalismo na Universidade de Brasília (UNB). Mara e o esposo encontram o país mergulhado na ditadura militar e, estudando na UNB, ela encontra sua vocação. 
    “[Em 1978] tudo era em nome da segurança nacional, e eu estava na UNB e um amigo [Antônio Augusto Silva] falou que estavam fazendo uma Rádio para ocupar a Amazônia, porque o pessoal lá não falava mais nem português e disse para eu ir lá fazer um teste. Respondi: 'menino você está louco, eu nem conheço a Amazônia e nem conheço o Rádio, nunca fui'”, conta Mara Régia, que mesmo assim foi fazer o teste e três meses depois já era uma "radioapaixonada".  
  Mara Régia di Perna, sobrenome herdado do marido italiano (de quem hoje é separada), é mãe de dois filhos: Filippo di Perna e Mirella di Perna. Já no nome, carrega a referência da planta símbolo da região amazônica: a vitória régia. Empunhando um microfone pelas ruas de Brasília ela também se tornaria um símbolo.


Ouça depoimento da jornalista Mara Régia di Perna em que ela conta como foi sua estreia no Rádio e a criação do programa Viva Maria.

Estreia no Rádio

    Assim, como produtora, Mara começa a integrar a equipe da Rádio Nacional do Brasil, que falava para o exterior. Meses depois de entrar para equipe da emissora, no final de 1979, seu potencial para falar nos microfones foi identificado por Heleninha Bortone, que a convidou para integrar a equipe de radioatores que dariam vida à primeira radionovela da Rádio Nacional da Amazônia - História do Dito Gaioleiro, veiculada pela primeira vez em janeiro de 1980.
 
Acompanhe o primeiro capitulo da radionovela História do Dito Gaioleiro, com a participação de Mara Régia.  
  Interpretando a personagem Belinha, que anos mais tarde ela leva para o seu programa Natureza Viva, começou a ser conhecida na Amazônia. Em 14 de setembro de 1981, rouca, Mara coloca em definitivo a sua voz no ar e passa a apresentar o programa Viva Maria, pioneiro nas discussões de questões de gênero no rádio brasileiro. 

Viva Maria


Dos estúdios da Nacional de Brasília, apresentadora 
ajuda a garantir vários direitos das mulheres.
   No comando do Viva Maria, Mara faz escola ao pautar os mais importantes assuntos referentes à luta pelas conquistas dos direitos das mulheres brasileiras. Ela defende a construção da primeira Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e do Conselho dos Direitos da Mulher, no Distrito Federal. 

   Na Constituinte de 1988, à frente do Viva Maria, ela encabeça os abaixo-assinados pela garantia à licença-maternidade de 120 dias, licença-paternidade e creche de zero a seis anos. Essas foram bandeiras que, pelo programa, chegaram até o Congresso Nacional para sensibilizar os deputados constituintes e a sociedade em geral.
   Esse ativismo tem sua origem marcada pela violência doméstica que a menina Mara via sua mãe sofrer, quando o pai chegava em casa alcoolizado. Das brigas, Dona Iolanda da Costa saía muito machucada, o que fez nascer em Mara o desejo de que outras mulheres não passasse pelo que viu sua mãe passar. 
   Em 1990, além de despertar a ira dos maridos que passaram a ameaçar a jornalista, ela também foi identificada pelo governo de Fernando Collor de Mello como uma liderança negativa e, por um telegrama, ela é sumariamente demitida e banida da Empresa Brasileira de Radiodifusão (Radiobrás) até 2009, quando foi anistiada para valer, embora tenha voltado à emissora em 1993, para integrar a equipe do programa Natureza Viva, criado no inicio da década e que estava passando por uma reformulação. Mara inicialmente produz e apresentaria o quadro Natureza Mulher, no ar até hoje.

Censura no Governo Collor

    Fora das emissoras que integravam a Radiobrás, Mara participa da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a Eco 92, no Rio de Janeiro. Graças a essa experiência, criou para a Rádio Cultura FM de Brasília o Programa Eco Feminino, que esteve no ar, sob o seu comando, até 1994. Nesse mesmo período, também produziu para a ONG Cemina uma série de programas especiais com o apoio do Unifem – “ Mulheres em Comunicação com o Meio Ambiente”. 

Natureza Viva

   A partir de 1993 Mara Régia retoma suas atividades na Rádio Nacional da Amazônia no Natureza Viva, um projeto do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), em parceria com o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e a Radiobrás. Pelo programa, de 1993 a dezembro de 2000, ela teve um contato diário com as mulheres da floresta.
   O Natureza Viva já passou por várias fases, mas sempre manteve o formato de revista radiofônica. Em 1993 passou a ser ancorado pela dupla Ida Pietricovsky e Carlos Moreira. Nesse mesmo período, com o apoio do Unifem, hoje ONU Mulheres, a jornalista Mara Régia di Perna, era responsável pelo Natureza Mulher, um quadro dentro do Natureza Viva voltado para a questão de gênero e meio ambiente.
Concluída essa primeira fase, em 1995 o comando do programa passa a ser dividido por Mara e a radialista Rejane Limaverde. Daí para frente, à experiência se amplia com várias viagens de campo às comunidades. Oficinas de comunicação também começam a ser sistematizadas para ouso do rádio no combate às queimadas e incêndios florestais na Amazônia. 
   O programa também é Natureza Mulher, à medida em que tem um espaço inteiramente dedicado ao impacto do meio ambiente no corpo feminino e a abordagem das questões de gênero voltadas para a saúde e direitos reprodutivos. Os principais desdobramentos desse trabalho foram apresentados por Mara na Conferência do Clima em Berlim, na Universidade da Paz (IUPIP), Rovereto, Itália; e na Conferência de Beijing na China, em 1995.
    De 2000 a 2003, o Natureza Viva passa a ser levado ao ar pelo Sistema Difusora de Rádio, graças a uma feliz parceria com o Governo da Florestania do Acre, através das seguintes emissoras: Rádio Difusora Acreana; Rádio Educadora 06 de agosto – Xapuri; Rádio Difusora de Feijó; Rádio Difusora de Tarauacá; Rádio Difusora de Sena Madureira e Rádio FM de Brasiléia. Em 2003, o programa volta para Rádio Nacional da Amazônia. 
   Devido à aproximação de Mara com as mulheres amazônicas, ela teve a oportunidade de realizar o ritual de abertura do I Encontro Internacional das Parteiras da Floresta, Amapá, julho de 1998; e também o I Encontro das Mulheres da Floresta em dezembro do mesmo ano. 

Mulheres nas Ondas do Rádio

   Em 1997, já sozinha no comando do programa Natureza Viva, Mara foi selecionada no Concurso de Bolsistas da Fundação MacArthur. A partir daí, passa a sistematizar as práticas e tradições dos povos da floresta no campo da sexualidade, por meio do projeto: Mulher nas Ondas do Rádio: Corpo e Alma Rompem o Silêncio. Passou três anos viajando pelos estados da Região Norte, desenvolvendo oficinas de saúde - laboratórios de rádio para capacitação das chamadas lideranças transformadoras. 
Mara Régia em suas andanças na região amazônica, 1977 
   Em busca de uma melhor compreensão sobre o funcionamento da geografia do feminino, Mara se utilizava do abacate e da goiaba para a representação do útero e dos ovários. Seu trabalho de pesquisa junto as parteiras que participavam das oficinas resultou na radionovela “A vida pede passagem, uma história de luz”, feita por Mara e a ginecologista obstetra Lívia Martins, que acompanhou a jornalista em muitas oficinas. 
   Durante o desenvolvimento do projeto Mulher nas Ondas do Rádio, Mara também encaminhou 150 cartas-denúncia à CPI da Mortalidade Materna, instalada na Câmara dos Deputados no ano 2000. O dossiê consta nos anais da instituição.

    De 1999 a outubro de 2001 Mara integrou o Conselho Político da Rede de Mulheres no Rádio. Uma iniciativa que nasceu da necessidade de fortalecer as experiências de gênero em rádio no Brasil. Convidada a participar da produção de uma série de programas radiofônicos para a Rede Mulher de Educação: mudando o Mundo com as Mulheres da Terra, conquistou o primeiro lugar no concurso A TODA VOZ, promovido pela AMARC – Associação de Rádios da América Latina e Caribe. 
    Já de 2004 a 2006, Mara Régia prestou serviço para Rádio Ministério da Educação e Cultura (MEC) do Rio de Janeiro, onde apresentou o programa Mulherio, uma revista radiofônica da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), levado ao ar aos sábados. Ao longo de 53 minutos, eram apresentadas as muitas faces da mulher brasileira em toda sua diversidade. 
    Em defesa aos direitos dos animais, por meio de uma parceria da Radiobras com o WWF Brasil, Mara Régia produziu e apresentou o programa Trilha Animal, levado ao ar de 2007 a 2012. Foram 265 edições em que as questões ligadas a ciência e a vida dos animais foram colocadas em evidência.

Atuação na TV

    Além de sua passagem por emissoras de rádio, o currículo de Mara Régia apresenta passagem por muitas emissoras de TV. De 1989 a 1990  foi Produtora e apresentadora na TVE do Rio de Janeiro, onde criou o programa Cidadania,  cujo projeto inicial se constituía numa série de 26 programas de televisão voltada para a divulgação dos direitos do cidadão brasileiro conquistados na Constituição de 1988; produtora Executiva do Jornal Noite / Dia, na Rede Manchete de Televisão, de 1991 a 1992; editora  Senior do Jornal Bom Dia Brasil, de 1992 a 1994, na TV Globo;  entre outros trabalhos.

Prêmios

   Ao longo do tempo, Mara Régia é reconhecida e premiada pelo seu trabalho. Prêmio Towards 2000, setembro de 1995; Prêmio Embrapa de Reportagem , novembro de 1995; Troféu Gaia, 1996; Indicação ao Nobel da Paz pelo Projeto Mil Mulheres, em 2005; primeiro lugar Prêmio Chico Mendes , categoria Arte e Cultura, Ministério do Meio Ambiente, em 2006;  Prêmio Ouvir Ciência, Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2007; entre tantos outros prêmios e honrarias.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Gravação do Viva Maria é transmitida pela primeira vez via web em 2013

 
    Levado ao ar pela Rádio Nacional de Brasília desde 1981 e apresentado por Mara Régia, o programa Viva Maria vem há mais de 30 anos defendendo os direitos da mulher. Nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março de 2013, a atração teve uma edição especial e contou com uma novidade: sua gravação foi exibida pela primeira vez via web, pelo portal da  Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A edição foi transmitida ainda por todas as emissoras de rádio da empresa e o público foi convidado a participar enviando seus comentários pelas redes sociais.
Mara Régia nos bastidores da transmissão especial do Viva Maria, em 08 de março de 2013
     Em destaque, esteve a repercussão do Caso Bruno, como exemplo extremo da violência contra as mulheres no Brasil e no mundo. Aline Yamamoto, coordenadora de Acesso à Justiça e Combate à Violência da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência, falou sobre a sentença final do julgamento. O escritor e teólogo Leonardo Boff foi outro entrevistado do programa. Ele prestou homenagem à escritora e feminista histórica Rose Marie Muraro, sua parceira na construção de uma cultura de paz entre homens e mulheres. 
     Viva Maria resgatou ainda a memória musical da apresentadora Bia Reis, falecida em 2012, que entrevistou a cantora brasiliense Ellen Oléria.
    O encerramento contou com a apresentação ao vivo de duas canções que marcam a cultura brasileira e a história do programa - Asa Branca e Maria, Maria -, por um coral feminino de jornalistas das rádios da EBC.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Trabalho de conclusão de curso conta história da luta pela cidadania feminina no Brasil e do programa Viva Maria

Com o trabalho que levou o titulo Viva Maria: o rádio a serviço da igualdade de gênero, o então estudante de jornalismo, Cláudio Paixão, conclui o  curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, em 2013.

O trabalho resgata a trajetória do programa de rádio Viva Maria e avalia seu papel como articulador dos movimentos de mulheres no período da construção da Constituição de 1988. Nesse contexto, o  programa Viva Maria apresentado desde sua criação pela radialista Mara Régia, na Rádio Nacional de Brasília, nasceu em 1981, época de intensa mobilização social no Brasil. O Viva Maria colaborou ativamente com os movimentos em torno da garantia dos direitos das mulheres no processo da Constituinte, indo para as ruas de Brasília e para o Congresso Nacional, engrossando o movimento que ficou conhecido como Lobby do Batom. 

Dos movimentos encabeçados pelo programa, que logo no seu primeiro ano levou as mulheres a participarem de reuniões no auditório da Rádio Nacional de Brasília, nasceu a Associação das Trabalhadoras Domésticas do Distrito Federal. O programa participou ainda do processo de criação do Fórum de Mulheres do Distrito Federal (FMDF) e se uniu às mulheres na luta pelo combate à violência e na construção da primeira Delegacia da Mulher (DEAM), no Distrito Federal, em 1987. 

Viva Maria faz história na luta pelos direitos das mulheres

Segmentação da programação da Rádio Nacional de Brasília

Entre o final da década de 1970 e inicio dos anos de 1980, ainda sob o regime de exceção, a programação da Rádio Nacional de Brasília passa por um processo de segmentação. O entretenimento baseado nos concursos de calouros, grandes shows e programas de auditório aos poucos vão sendo  deixados de lado. A programação  musical se torna plural abrangendo desde a música sertaneja ao rock´n roll que emergia na capital federal.
Com o objetivo de atender diferentes públicos e as diferentes camadas da sociedade surgem os programas Grande Parada Nacional, Geração Colorida, Encontro com a Tia Heleninha e o Viva Maria. 

A Estreia do Viva Maria
 
A apresentadora Mara Régia nos estúdios da Rádio Nacional
       Dentro desse processo de segmentação o programa Viva Maria, com apresentação de Mara Régia di Perna ao lado do locutor Luiz Adriano, entrou no ar em 14 de setembro de 1981, após dois comentaristas esportivos terem brigado no ar e serem demitidos. 
    Mara Régia di Perna havia começado sua carreira na Rádio Nacional de Amazônia, como produtora, em 1979. Ao voltar da licença maternidade em 1981 foi convidada pelo gerente da Rádio Nacional de Brasília, Eduardo Fajardo (foto abaixo), para ocupar o horário das 15 às 17 horas, que havia ficado vago. 

Ex-diretor da Nacional de Brasília conta o início da carreira da apresentadora Mara Régia e como nasceu a ideia do programa "Viva Maria". 
      Após receber o convite Mara não teve dúvida de que queria falar com as mulheres. A música “Maria, Maria”, composição de Fernando Brant e Milton Nascimento, foi escolhida para ser a trilha sonora do programa e se tornou símbolo das lutas femininas pelo rádio. 
      O nome Viva Maria nasceu depois de uma conversa da locutora Mara Régia com a primeira produtora do programa, Antonieta Negrão, inspirado no balé Maria, Maria que estava sendo apresentado em Brasília, pelo Grupo Corpo, de Belo Horizonte.
Eduardo Fajardo, ex diretor da Rádio Nacional de Brasília
    No inicio, o perfil da atração era mais a menos, mas não demorou muito para que Mara começasse a imprimir seu estilo ao falar para o público do campo e da cidade, levando noções de emancipação e sensibilização para a causa feminina.  
    Prova da importância do programa para as mulheres está no depoimento da brasiliense Maria Almeida, de 1987. Em entrevista concedida, a Deográcia Pinto, na época estreante na profissão de repórter, Maria Almeida conta que sentia vergonha do nome antes do Viva Maria.
 
Depoimento da ouvinte Maria Almeida (08.03.1987)
    O Viva    Maria teve momentos de lutas, ao abrir os microfones para os movimentos de mulheres que se fortaleceram com a criação do Fórum de Mulheres do Distrito Federal. Ainda durante a “ressaca” do regime militar, no período de redemocratização o Viva Maria encampou lutas, como, pela criação da primeira Delegacia de Atendimento da Mulher (DEAM), da capital federal, desencadeada pelo assassinato da estudante Thaís Muniz Mendonça. Thais foi morta a facadas no Campus da Universidade de Brasília, em 1987, e cujo namorado Marcelo Bauer foi apontado como principal suspeito (Conheça o caso). Essa fase do programa foi recordada pela radialista no ultimo dia 02 de junho, ao conversar com a ouvinte Joana de Jesus Oliveira (a Jô), de Brasília. 
 
Mara Régia recorda importantes momentos do programa e conversa com a ouvinte Jona de Oliveira que resgata o caso Thaís no Viva Maria (02.06.2011)
 
Das lutas a censura no governo Collor
 
    O programa fez campanha por amamentação, pela infância e juventude e fez o Lobby do Batom na Constituinte de 1988. Mesmo admirada por muitos Mara não conseguia agradar a todos, como os maridos que se revoltavam com as idéias da radialista e chegavam a fazer fila na porta da Rádio Nacional. Em maio de 1990, o primeiro presidente eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Mello identifica Mara como uma “liderança negativa” e através de um telegrama a demite e proíbe a radialista de entrar na emissora, até então uma emissora estatal.
Mara Régia, em suas andanças pela Amazônia
     Em protesto a decisão de Collor, as mulheres latinas elegem o 14 de setembro, data de estréia do programa, como o dia da imagem da mulher nos meios de comunicação. Com o fim das transmissões pela Rádio Nacional de Brasília, Mara levou o programa para Rádio Capital, onde ficou de 1992 a 1994.
     O fim das transmissões do Viva Maria também repercute nas galerias do Congresso Nacional. A deputada constituinte, Moema São Thiago (PSD-CE), no Dia da Liberdade de Expressão (13/6/1990) presta homenagem ao programa, em seu discurso reproduz um artigo escrito por Tetê Catalão que havia sido publicado no Correio Brasiliense de 29 de maio de 1990.
Sr. Presidente, Sr" e Srs. Deputados, hoje, Dia Internacional da Livre Expressão, venho à tribuna não só para prestar minha homenagem aos que labutam nos meios de comunicação, como para denunciar o afastamento da radialista, amiga e lutadora feminista, Mara Régia di Perna, após 9 anos de luta à frente de "Viva Maria", na Nacional. E o faço através de belíssimo artigo escrito por Tetê Catalão, sob o título "Viva Marias", no qual, com imensa e justa revolta, segura seu grito para que as palavras escritas reproduzam com fidelidade e sensibilidade - tão típicas à Mara - a emoção comum, principalmente às mulheres de todos os estratos, em uma sociedade carente de justiça social. Eis o texto, publicado em periódico desta Capital, no dia 29 de maio:"Ave Marias Saudações! Cheia de graça, uma voz perde o microfone, mas não perde a frequência. Bendita és tu, por seres mulher. Entre todas as mulheres será sempre bendita aquela que não cala. Bendita será bem vinda! No ar, como arma suave de quem não usa a força, mas está sempre diante da brutalidade. Outras interrupções já foram sentidas. Outros impedimentos já foram decretados. Mas a cidade tem uma alma de erva teimosa que acha um buraco na couraça e brota. Viver Marias é mais fundo do que sobreviver arrogante, na eventualidade dos cargos. A mulher tem a concepção do sêmen.A mulher tem todas as aberturas do milagre para transmitir: ela recebe em sua sabedoria passiva e cria em condição permanente de nutriz. Em Mara, um grito poderia ser um' sussurro contra os muros. Um toque delicado poderia virar berro indignado com tanta hipocrisia. O rádio que nos irradiava. O dia sem poente. A vontade besta de servir nesta conspiração de cargos e "pequenos reinados", apodrecidos pela própria incompetência. O que será esta poda? Toda a vez que um trabalho ameaça realizar a força viva da cidade vem um tombo?Nossa indigência cultural chama-se descontinuidade. Chama-se interromper para dispersar. Mas não sabem, eles, que nossa raiz está lúcida na placenta do planeta. Está úmida de gozo para a prenha. Teimar e tentar.Condenados que somos a um eterno recomeçar.Mas o fruto amadurece, sob a falsa imagem da derrota. Por não terem rotas, nem programas, nem futuros brilhantes - apenas somos, como Mara. Candangos do sistema nervoso desta cidade.Não a cidade sitiada nem leiloada por vendilhões no templo, mas a cidade arca, arquétipo, luxo do espírito que um dia dirá: basta! Hoje é o dia dos anjos!Por isso, não choremos o breu. Temos brio. Um beijo, Mara.E Ave Marias, cheias de graça." À Mara mulher, mãe, feminina, amiga, batalhadora eficiente e profissional competente, meu irrestrito apoio, contra a violência praticada.Hoje, Dia Internacional da Livre Expressão, por seu intermédio, minha manifestação a todas as Marias, que tanto padecem os efeitos de injustiças pessoais e desinteresse geral.A voz de Mara jamais poderá ser calada, ainda que lhe seja fechado provisoriamente o espaço radiofônico. As vozes das muitas Marias, que a procuravam, continuarão à intercomunicar-se: mulher agredida versus delegada feminista; mãe em luto, perda de filho ou marido, versus psicóloga; comerciária despedida versus advogada trabalhista; jovem solitária versus desconhecida solidária. Seu coração sofria, junto com o padecimento da amiga ou interlocutora nunca vista, sem qualquer discriminação de raça, sexo, partido político, condição socioeconômica ou capacitação intelectual.Profundamente chocada com seu afastamento da Rádio Nacional, junto minha voz e comoção às de todas as demais Marias mulheres, esposas, mães ou não, em particular no exercício do mandato para o qual fui eleita Deputada Federal, como nordestina. (MOEMA SÃO THIAGO (PSDB- CE, 13 de junho 1990).
   Após a passagem pela Rádio Capital, por quase uma década o programa Viva Maria ficou silenciado, mas não a consciência de Mara Régia que continuou engajada nos movimentos feministas. A jornalista fez Rádio de rua, e em 1993 passou a produzir o quadro Natureza Mulher dentro do programa Natureza Viva, da Rádio Nacional da Amazônia.
Nova fase do programa

       Em 15 de julho de 2004, o Viva Maria voltou a ser apresentado na forma de programete, ou seja, com curta duração. Vai ao ar de segunda a sexta-feira, em diferentes horários, pela Rádio Nacional da Amazônia, pela Rádio Nacional de Brasília, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, pela Rádio Nacional do Alto Solimões.
 O programa também está disponível na internet,em http://radioagencianacional.ebc.com.br/tags/viva-maria, podendo ser ouvido em qualquer momento e até mesmo ser retransmitido por emissoras de todo o país.  
   Um dos momentos mais marcantes vivido pelo programa nessa nova fase foi o anuncio da criação da Lei Maria da Penha. Nesse contexto, o Viva Maria passou a ser um canal de conscientização das mulheres para fazer valer a lei 1.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006.